A Coelhinha - crônica
Vou pedir licença para descriminar (inocentar) os preconceituosos*. Coisa comum e humana é ter preconceito, quase todos têm algum preconceito, alguns não comem sarapatel ou miolo de boi de jeito nenhum. Conheço pessoas que odeiam fazer supermercado com as esposas ou namoradas. Tem gente que tem preconceito contra gordos, outro com pessoas que não sabem combinar a cor das roupas com as meias e as gravatas. Porém, o preconceito é mais pesado quando envolve sexo.
Eu sou preconceituoso, assumo, e não me sinto diminuído por isso. Existe preconceito sobre quase tudo. Sexualmente, por exemplo, os homens usam preconceito ao definir as mulheres bonitas e atraentes como gostosas. E, quem tem alguma arte na prática da sedução, sabe que não é bem assim.
Como diz uma amiga, “os homens confundem muito as coisas”. É. Eu concordo com ela, sei que “a meia luz toda gata é parda”, no sexo, a competência vale mais que a beleza. Nunca fui um “garanhão”, porém entre um e outro relacionamento, dei meus pulinhos e lembro-me de algumas belíssimas que, literalmente, foram decepcionantes.
Outras foram divertidas e até competentes. Algumas tinham singularidades que atrapalhavam um pouco a concentração na hora “h”, dentre essas, a mulher tipo ambulância. Sabe? Aquelas que auuuullllll, auuuuulllll e assim cantam como uma sirene até o final da brincadeira. É meio chato, mas dá para se levar numa boa.
Lembro-me de outras também com suas manias. A exemplo das desbocadas escandalosas que chegam a assustar o parceiro. No ensejo, elas abrem o verbo ou melhor, os adjetivos e aos gritos começam: vai fdp! Lasca seu...! E por aí iam ou vão num tom de voz que mesmo quem mora no décimo andar, quando passa pela portaria ouve um chiste. Essas são a alegria dos vizinhos fofoqueiros...
Tem as religiosas que preenchem a cama com todos os santos — ai meu Santo Antonio! Vige Maria! Meu DEUS! Agora... Jesus, Maria, José. Vai, meu anjo! Papai do céu, me ajuda... Tive até uma mulher caranguejo que andava para trás, na cama, o tempo todo, forçando-me a segui-la para nos mantermos atrelados. Há, até, as contorcionistas que leram o Kamasutra e acreditaram naquela baboseira de posições circenses. Tem que variar, eu sei, mas não vamos abusar...
De todas as mulheres exóticas que namorei, uma em especial me levou a uma inusitada situação. Na época, assim que entrei na faculdade, dei de cara em uma garota de minha turma que era absolutamente linda. Algo como uma versão melhorada de minha mulher ideal. Ela beirava os vinte anos, meiga e sempre passava a impressão que acabara de sair do banho. Era clara, cabelos negros, olhos verdes, nem alta nem baixa, seios médios e duros, possuía até sardas. Adoro sardas. E usava o mínimo de maquiagem. Unhas sempre bem cortadas, medias, e com esmalte transparente. Completamente diferente das outras colegas que estudavam Artes Plásticas e andavam de chinelo de couro cru, (comprado no mercado modelo), camisetas com mangas cortadas, pintadas com “Tintol”, saias de elástico tipo cigano também tinturadas com desenhos de mandalas e criavam, como um bichinho de estimação, um chumaço de cabelo nas axilas. Logo de cara me interessei pela moça, mas fiquei receoso de me aproximar, eu era calouro e notei que até os veteranos, tidos como “comedores”, mantinham dela uma certa distância. Imaginei mau hálito, namorado forte e ciumento ou fosse ela do tipo que faz muito doce, lésbica, talvez? Ao encontrá-la sozinha no ponto, parei minha Brasília Amarela e ofereci carona. Para meu espanto ela aceitou, morava na Pituba, bairro onde eu também morava, e não vi nada que a desabonasse como escolhida. Ficamos amigos e terminamos por namorar. Os veteranos gracejavam: — E aí, coelhinha, namorando um calouro... Nos intervalos alguns até me incentivavam a levá-la logo ao motel. Isso foi até a chegada do dia D.
Numa greve de professores, resolvi convidá-la e fomos ao motel que ela escolhera. Tudo era só alegria. Beijos, abraços, outras preliminares e os demais no bem bom etc. Quando chegamos nos finalmente, ela preferiu ir por cima, disse:
— “Fica na sua e deixa comigo”.
Obediente, relaxei. E ela começou indo devagar no vai e vem até que acelerou e... num êxtase... POF! Apagou! Mas apagou mesmo. Caiu ao meu lado semimorta. Pensei,
— Matei a moça.
Desesperado, com o coração a 180 bpm, apanhei o telefone e chamei o gerente. Eu, nu em pelo, andava de um lado para outro com as mãos na cabeça... Suava feito cuscuz, dava tapinhas no rosto dela, tentava ouvir o coração, tentava ver a pulsação e nada... Uns cinco minutos se passaram... para mim pareceu uma eternidade. O gerente bateu na porta, eu abri, e ele, como se soubesse o que acontecera, retirou um frasquinho do bolso e passou junto ao nariz da linda cadáver que, como Lázaro, aos poucos, ressuscitou. O gerente me deu um tapinha costas e disse,
— Tome um suco de maracujá. Com essa aí, toda vez, é assim. Daqui a pouco ela estará pronta para outra.
Imagine depois daquele susto... nem com guindaste subiria. Passei o resto do semestre sendo gozado pelos colegas até que outro preconceituoso encarasse a coelhinha...
*Favor não confundir preconceito com discriminação.
Crônica do E-book - Crônicas e outros textos levianos.
Ricardo Matos.
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