O fluxo que conduz a vida.


 

    Ele surge pequeno, geralmente, numa montanha, frágil e límpido. E
começa a andar e vai indo ao seu destino. Ele não sabe o destino, apenas
sabe que tem que continuar indo porque não há como não seguir em
frente. Às vezes, ao encontrar uma barreira altamente obstrutiva, ele dá a
impressão de estar parado. Mas, imperceptivelmente, o topo da barreira
lentamente se aproxima e, sem que espere, a barreira é ultrapassada.
Neste caminho ele se sente avolumando enquanto atravessa
lamaçais, corredeiras e até imensas quedas, onde, após rodopios
angustiantes, continua a seguir seu caminho continuo.
A sujeira do mundo, ao redor, vai se impregnando em seu ser pelo
caminho sem ser notado, mas, mesmo assim, não há como parar as
transformações ou escolher o trajeto, estas mudanças são inevitáveis.
Durante seu percurso perde-se parte, incorporam-se outras partes e
o seu caminhar continua. Vezes por rotas fáceis, vezes por rotas difíceis,
há dias lentos, preguiçosos, outros rápidos, a depender das circunstâncias,
mas ele sempre continua até se incorporar ao grande todo e nele se
dissipar. Quando dissipado, voa em partículas e retorna nos braços dos
ventos e cai na terra, e nela desaparece e aprofunda para se tornar
novamente límpida e retornar sem, ao menos, se lembrar de já ter sido um
olho d’água.

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