Cacá, Zezé e a barraca de Bené.


 

            Além de escritor, dramaturgo, meu pai era jornalista, fora editor no Jornal da Bahia, na Tribuna da Bahia e trabalhou em alguns outros jornais e revistas até que, junto a José Gregório Gorender e Maurício Naiberg fundaram o IC Shopping News.

            O IC Shoppig News tirava aproximadamente 40.000 exemplares, o que, na época, era uma circulação de respeito para um veículo de Salvador. O Jornal  era distribuído gratuitamente, aos domingos. Lembro-me que pelo IC Shopping News passaram grandes nomes do jornalismo baiano, até brasileiro, como Mizael Peixoto, Ademar Gomes, os também escritores Guido Guerra, João Ubaldo Ribeiro,  Glauber Rocha, Silvio Lamenha e o grande crônista Raimundo Reis, que, entre outros do mesmo naipe, que a memória falha, esqueceu, mas contribuíram para história do jornalismo baiano.

            Naquela época, meu pai trabalhava ocasionalmente em casa e costumava me mandar ir comprar os jornais do Rio e São Paulo na “Banca de Bené”. Morávamos, na época, na Avenida Paulo VI, ao lado do Colégio Militar, Pituba, e a tal “banquinha” se localizava na esquina da Rua Minas Gerais com o beco da Rua Alagoas, na ponta do triângulo que fazia a intercessão das duas ruas, lá ficava a banca. A distância de minha casa até  a banca de Bené girava em torno de 5 ou 6 km e eu ia à pé, sem lenço e sem documentos cantarolando Caetano Veloso e brincando nas sombras das árvores. Lembro bem porque a coisa ficava perto da casa das irmãs Cacá e Zezé, Zezé fora uma das minhas paixões platônicas da adolescência... 

            Na Pituba, para encontrar  os jornais sudestinos,  só mesmo lá em Bené. Lembro que aos domingos, eram pesados os dito cujos, dado ao volume dos Classificados, principalmente os classificados do Estadão.  Porém os “grandes Jornais”, para meu pai, era insumo importante aquelas informações. O bom, para mim,  fora a expectativa de cruzar com Zezé e poder olhá-la apaixonadamente, era comprar, com o troco, as revistas em quadrinhos que eu gostava tipo Batman, X Men ou mesmo Tio Patinhas...

            Lembro também que as ruas da Pituba eram arborizadas, no geral, por Amendoeiras frondosas que sombreavam as ruas e forrava algumas com folhas e frutos. Hoje, na Pituba, quase não se vê mais as amendoeiras. Creio que, para cortar o custo das podas a turma de ACM Neto preferiu derrubar as árvores não só da Pituba, mas de Salvador inteira, o que, tenho certeza, transformou Salvador num forno refletor do calor que castiga nossas ruas asfaltadas.

            Tal memória me fez lembrar que as praias que antes lotava de banhistas, o nosso litoral, hoje foi abandonado. Principalmente as paias iniciando em Amaralina, passando pelo antigo Salva-Vidas, indo até as praias de Itapuã. Agora, quando muito, só se vê alguns surfistas na Boca-do-rio e Placa FORD.

            A lei que acabou com a frequência nas praias de Salvador foi criada pelo Senador Antônio Carlos Magalhães, derrubando, ferozmente, as Barracas de praia. É terrível lembrar o que foram as praias da Pituba e o que restou delas. Se assim fosse, como é hoje, não poderia assistir o desfile de biquine das irmãs Cacá e Zezé na praia do Salva-Vidas que, ao esticar-se ao sol, na areia, despertava desejos em muitos jovens e em mim causou uma grande paixão... 

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