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Mostrando postagens de outubro, 2024

Mongka

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               Certa vez, como contamos nas Alagoas, um grileiro parou diante de pedaço de rua e perguntou: “É o senhor o famoso Mongka, matador? Respondeu: “Mongka foi como meu pai me apelidou, mas não sou matador.                Sou justiceiro. Só mato, quem morte mereça segundo os ensinamentos do meu pai e os do meu padrasto, sargento Eulábio. E se afaste o senhor ou lhe garruncho na cara”, sendo que, como se conta nas esquinas de Maceió, o grileiro “deu no pé”, abandonando a prática da grilagem para tornar-se pacífico comerciante de secos e molhados... Isso chegou ao nosso conhecimento, arquivista do “Diário de Brasília” e passamos o informe, como do nosso dever, à chefia da redação. Semana e pouco depois, Nádia, repórter muito vivaz, apareceu-nos com uma gravação e disse:                -- É a voz de Mongka e há pedaços da história dele.                Voz cheia. Ouvimos: “Comecei a gostar de matar perversos e injustos quando eliminei meu padrasto, um sádico. Era forte o bicho, mu

Quando a ficha caiu

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                 Vivia como em sua maioria vivem as pessoas normais, buscando um futuro que nunca chega e nunca haverá de chegar e preso a um passado que a memória falseava. Tivera uma infância fácil, visto de suas boas recordações imaginadas. Quando jovem e belo, fazia como todos os jovens, que por serem jovens e belos, sem se saberem belos, por serem jovens, buscam em si defeitos que não possuem. Ele, apenas, continuou jovem ano a ano fazendo o que esperavam por ele ser feito. Enamorou quem o quis, não quem ele queria — temia as paixões, — e casou-se e procriou como esperado. Trabalhou muito e educou os filhos, como se educa os filhos de quem vive na busca por ser um vencedor. Amava os filhos e a eles dava sempre o do bom e do melhor. Só não dispunha de tempo para conhecê-los e os educava como fora educado, exigindo respeito e obediência a ele e as regras sociais de sua classe. Viveu como vivem quase todos os que a sorte favoreceu. Apenas não se deu conta que o tempo nã

O Palhaço

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  Trajado com enorme calça florida, que comportaria três pessoas de peso equivalente ao dele, tendo prendido na altura da cintura um bambolê, cosido sob o cós da calça e seguro por suspensórios verdes, que sobrepunham camisa de seda ornada com grandes círculos coloridos; Florentino se sentou diante do espelho. Com o coração apertado rememorou pela zilionésima vez do dia em que se despediu de casa. Deixara para trás a mulher que amava, e nela, os olhos lacrimejantes. Eram especiais aqueles olhos transparentes, vítreos, com apenas leves intenções de azul que lhe expunham, sempre, os sentimentos mais profundos. Enquanto empastava o rosto com pigmentos coloridos, recordou-se, igualmente, do açude seco, do gado morto, da fome que passara e da dor que sentira ao deixar o sertão baiano motivado pela seca. Partira junto aos mambembes para São Paulo carregado por sonhos de melhores dias. Esquecera-se apenas da promessa feita à mulher de olhos vítreos que retornaria para buscá-la.