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                 Língua.      Deu um gole no café, quente, e pôs a língua para funcionar. Atentou para respiração, o ritmo é importante, o coração acelerado, sua mão percorria a coxa, ele sôfrego, a mão suada. Ele a queria em êxtase, coisas do amor. O prazer é algo medular, cerebral.  Mexeu e remexeu, pausas, acelerações, sentiu o corpo vibrar. Será que haverá enlevo? Será que conseguirei fazê-la em torpor chegar ao delírio. Sentiu-se perto de atingir o objetivo. Não queria concluir assim, rápido. Não queria provocar um simples prazer, queria que ela sentisse o esforço para satisfazê-la, amada, totalmente envolvida. A língua era sua única arma, único caminho para se tornar inesquecível, queria aceitação total. Por fim, não pode mais resistir. Colocou o ponto final. Deu outro gole no café, agora morno. Olhou-a nos olhos, ela esperava ansiosa. Ele entregou o papel, nele, a poesia, ela sorriu e disse: lindo, amor. Obrigada, amei... Agora vamos dormir. Ricardo matos  
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  Mestre Ari, Custa-me escrever sobre Ariovaldo Matos, emocionalmente envolvido com ele desde meus começos. Eu o conheci, há muitos anos , numa redação de jornal , em que, misturando modéstia com porretismo, era o redator principal e mais que isto até: a coragem em letra de forma. Afeito a muitos apressei-me a elegê-lo entre os meus mais queridos. Lembro-o, às vezes, vário e único. Outras vezes não poucas, quase cavalheiro solitário do grito não permitido e portavoz das verdades não consentidas. Foi, contudo,  na cadeia, onde mais o admirei. Não pela coragem chegar à temeridade, mas pelo silêncio que se impôs: o sofrimento mudo, de que era, como continua sendo, amigo íntimo, perfeito, no que, como quê ampliado, cresceu a meus olhos e legou, ao menino rebelde que eu era, o exemplo. Diante da máquina, emocionado, escrevo sobre ele, no desesperado esforço pela contensão. Revejo-o de tantas maneiras e em muitos lugares. Ora na euforia mais estabanada, ora no seu quase silêncio de homem mon

“O discurso de Satã"

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  O que vou postar, creio eu, deveria ser lido por todos que se propõem a ser “influencer”, “produtor de conteúdo digital”, “estudante de jornalismo” e/ou mesmo jornalistas. Para mim o Discurso de Satã é um dos mais belos textos “proféticos” que já li. Um pouco do Autor. Friedrich Maximilian Klinger  (1752 – 1831) descendia de uma família pobre. Goethe possibilitou-lhe o estudo. Pertenceu durante algum tempo a um grupo de teatro, dedicou-se depois a carreira militar, tornando-se, finalmente, general na Rússia. Suas principais obras dramáticas pertencem ao Sturm und Drahg. Mais tarde, entre 1790 e 1800, escreveu seus romances filosoficamente fundamentados, que tomam frente ao mundo uma posição essencialmente crítica, se não cética. O Discurso de Satã foi extraído de seu romance A Vida de Fausto, seus Feitos e sua Descida ao Inferno (1791). A literatura ocupou-se com o tema fáustico desde a Idade Média. Fausto, por sua ambição de poder e ânsia de saber, faz um pacto com o diabo. No roman

Uma pausa para reflexão. Gaza e a resistência palestina.

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 " Em nome de Deus, Gracioso e Misericordioso Escrevo esta carta aos jovens cuja consciência desperta os moveu para a defesa das mulheres e crianças oprimidas de Gaza. Queridos jovens estudantes dos Estados Unidos da América! Esta é uma mensagem de concórdia e solidariedade da nossa parte para convosco. Estás agora do lado certo da história, cujas páginas se estão a virar diante de nós. Você agora faz parte da Frente de Resistência e, sob a pressão brutal de seu governo, que defende abertamente o implacável regime usurpador sionista, iniciou uma luta honrosa. Em um lugar distante, a grande Frente de Resistência luta há anos com a mesma compreensão e sentimentos que você tem hoje. O objectivo dessa luta é pôr cobro à flagrante injustiça perpetrada contra o povo da Palestina durante anos por uma rede terrorista implacável chamada sionismo, que, depois de tomar o seu país, os submeteu à mais extrema pressão e tortura. O atual genocídio do regime sionista do apartheid é a con
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  Xaréu                 Quando criança costumava, nas férias, acordar e ir à praia para assistir arrastões. Deslumbrava-me ver os pescadores invadirem as águas do mar e de lá buscarem os peixes que eu saboreava de diversas maneiras, preferencialmente, na moqueca feita por Maria. Mulher humilde, de nenhuma letra, mas muito culta nos sabores baianos. E numa dessas vezes, fui notado e convidado por um jovem pescador de nome Pepira a acompanhá-lo. É essa minha história. Era cedo para o dia. Cedo também para mim na busca de uma vida de obrigações. Mas eu andava ao nascer do astro rei, prelúdio da manhã, com Pepira beirando o mar e observando a maré. Naquele dia, em especial, o sol demoraria a sair devido ao cinza escuro que encobriu a linha imaginária no vergar do oceano... — Olha, Zé! Ta vendo!? Lá no fundo! Não está vendo o encrespado da água!? É xaréu! Cardume grande vindo pra beira. Vou buscar meu povo. Fique de olho. Olha lá, Zé! — Pepira, eufórico, repetiu a sentença aponta
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  O julgamento do anjo.   Creiam-me... — gritou o réu ao se levantar. O juiz martelava na mesa insistentemente pedindo ordem no tribunal, enquanto um burburinho soava do auditório. — ...Eu sou um anjo!   — completou o réu ao estacar-se de pé. — Silêncio! Ou evacuo o recinto. — Ordenou o meritíssimo juiz. — Data vênia, Excelência. — Levantou-se, também ao grito, o advogado de defesa com o dedo em riste e argumentou: — É de fundamental relevância ouvi-lo, pois a tese da defesa está centrada na crença do acusado...           — Protesto! — Gritou o promotor público. — O réu dará seu depoimento quando for ocupar a tribuna... As vozes do público no auditório se abrandam quando o juiz interpelou incisivo: — Protesto negado! Concedo ao réu dirigir-se à corte, — e completou: — quero ordem no tribunal!   Os advogados se sentaram. O silêncio aos poucos se instalou no recinto. O réu permaneceu de pé. O juiz, quebrando o silêncio, ao réu perguntou nome, endereço, a natureza d

Poesia indiscreta!

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  Ela   Observei a pele branca, (A danada sorriu). Divina a boca e os dentes. Linda a face com olhos expressivos de cor marrom. Belíssimo os cabelos, loiros, lisos e sedosos. O seio voluptuoso: E eram dois, com grandes auréolas rosadas. Grossa a perna: E pasmem! Também eram duas! Bem torneadas e encaixadas simetricamente ao quadril. Abundavam na parte traseira dois lombos eqüidistantes, Com o mesmo volume, e congruentes. Entre eles havia um furo frisado, carminado, como um tinto. (Do outro lado), Na frente e ao centro uma saliência óssea sob uma pequena camada de carne Recoberta por pelos encaracolados. Logo abaixo, grandes lábios carnudos. Dois o eram,   também, equivalentes e eqüidistantes. Entre os lábios, mais ao alto, uma pelanca enrugada escondia um pequeno botão rosado. (O buraco, como todos sabem: "É mais embaixo.") E dela transpirava a nítida idéia de querer ser amada.